30 agosto, 2009

Epílogo (de Charles Bukowski)

Fante foi pra Hollywood,
Fante no campo de golfe,
Fante nas mesas de apostas,
Fante numa casa em Malibu,
Fante amigo de Wiiliam Saroyan.
Mas Fante, eu lembro de você melhor,
nos anos 30 morando naquele hotel perto do Angel´s Flight,
se esforçando pra ser um escritor,
mandando histórias e cartas pro Mencken.
O grito vinha dos colhões naquela época.
Eu ouvi.
Eu ainda ouço.
E eu me recuso a imaginar você
num campo de golfe ou em Hollywood.
Mas agora não importa.
Você está morto
mas a boa escrita continua
e o jeito como você me ajudou a escrever como eu queria.
Eu estou feliz de finalmente ter te conhecido
apesar de você estar morrendo
e me lembro de ter te perguntado
“escuta, John, o que afinal aconteceu
com aquele menina mexicana no Pergunte ao Pó?
E você respodeu “ela se revelou uma porra de uma lésbica!”
E aí a enfermeira veio com a sua grande pílula branca.


(John Fante é isso. Só lendo)

28 agosto, 2009

cuidado. a síndrome do homem babão* está solta. estou impressionada.
até eles. uma pena. eles eram legais.



* falta de requinte seletivo, ou excesso de embasbacamento.

27 agosto, 2009

Coração de pai não nega nada pra filho

(texto meu, Adaptado por Hilde Buzzá e Ricardo Piazza )

UMA MESA. UMA MULHER E UM HOMEM SENTADOS FRENTE A FRENTE.
ILUMINAÇÃO: UM ABAJUR.
O HOMEM ESTÁ MUITO INSEGURO, USA ÓCULOS E TEM APARÊNCIA FRÁGIL. APARÊNCIA DE PAI DE FAMÍLIA. OLHEIRAS. OMBROS CAÍDOS. TRANSPIRA E TREME.
A MULHER ESTÁ BASTANTE SEGURA, CALMA, PRÓXIMA.

Ele:
Não, eu juro que eu não sei nada.

Ela:
Olha só, tenta. eu sei que você vai conseguir.

Ele:
O que você quer que eu faça? Invente histórias, é isso que você quer?

Ela:
Não. Eu sei o quanto isso é difícil pra você. Sei o quanto é complicado relembrar algo que te faz sofrer tanto, mas a gente precisa estar juntos pra descobrir a verdade.

Ele:
Eu não lembro. Era uma noite normal. Não tinha algo especial que marcasse aquela noite. A não ser..

Ela:
Isso, fale mais sobre ela. Quem sabe isso clareia sua memória

Ele:
Eu não vou falar sobre eles, não é justo. Aqui?! Ele merece respeito.

Ela:
Merece sim, eu concordo. Merece nosso respeito, e... você não acha que descobrir a verdade é o mínimo de respeito que ele merece?

Ele:
Olha, eu não sei o que aconteceu. Eu estou sofrendo e ninguém respeita minha dor. Ninguém estava lá quando eu vi o caixão descendo pra terra. Você não estava lá, eles não estavam lá. Foi em mim a dor, em mim. Você já viu isso acontecer com a sua família?

Ela:
(séria)Eu nunca faria aquilo com a minha família.

Ele:
Como?

Ela:
(voltando pra intenção anterior)
Nada. Vamos pensar. Alguém que não gostasse dele. Ou de você.

Ele:
De mim?

Ela:
É, alguém que poderia se vingar.

Ele:
E você acha que eu colocaria ele em risco? Eu?

Ela:
Não intencionalmente, claro. Mas certas coisas escapam do nosso controle. É comum, às vezes você não teve culpa alguma.
Eu não sei! Eu não sei. Que tormento. Por que isso? Você já teve filhos? Já teve a sensação de ser responsável pela felicidade de alguém? Não, não teve. Você não sabe o que é esse amor. Eu sei o que é amar! Eu sei o que é sofrer por amor.

Ela:
Sei que você sabe como é. Sei que foi um bom pai durante a vida dele.

Ele:
Eu fiz meu papel

Ela:
Você fez seu papel. Eu realmente nunca tive filhos. Acho uma traição.

Ele:
Do que está falando?

Ela:
Uma traição a nós mesmos. À nossa dignidade entende? Quando a gente tem esse amor todo que você disse, a gente acaba fazendo coisas que não deveria, pela felicidade dele. Não é verdade?

Ele:
É.

Ela:
E...Ah... crianças. Essas criancinhas. Não medem nada, nada! Até matam por um pirulito, pode acreditar. Tudo. Sem medir conseqüência, eles não moram nesse mundo, o das conseqüências. Então fazem tudo, tudo pra conseguir o que querem. Manha, bico, choro, olhos cravados na gente, pronto pra matar. Prontos pra matar.

Ele:
É... criança é o bicho.

Ela:
Criança não é inofensiva não. É criança destruindo mãe: suga o corpo dela durante nove meses, a praguinha. Secando o corpo dela enquanto mama. Dissolvendo os pais, pouco a pouco, com sorrisinhos. Por todos os lados. Sorrisos, balas, doces e manhas.

Ele:
(tomando um ar mais forte, firme, tomando postura)
É, quase coisa do diabo. Como uma coisinha daquelas, uma coisinha só. Parece tão inocente. Com aquele olharzinho. Mentira que toda criança é doce.

Ela:
(ela começa a tomar tom insinuante)
Aquele olharzinho! De quem quer alguma coisa....

Ele:
(atormentado)
É! Aquele olharzinho...

Ela:
Aquele olhar de quem quer alguma coisa...

Ele:
Quer alguma coisa. Eu não gostava não, sabe. Estranho. Criança sem vergonha, sem vergonha. Falava: sai menino. Sai. Sou seu pai.

Ela:
Mas eles nunca ouvem. Fazem tudo outra vez. Sorrisos, doces, bala, manha, bico. Bico e aquele olhar dissimulado.

Ele:
Aquele olhar dissimulado.

Ela:
Querendo brincar: (imitando criança) me leva pra brincar??

Ele:
É!!!!

Ela:
(fazendo gestos sexuais)
Pulando no cavalinho. Pulando, pulando. E pai obedece. Coração de pai é mole!

Ele:
Coração de pai é mole.


( falas são ditas atropeladas, o homem torna-se animalesco e os dois representam um estupro)

Coração de pai não gosta de negar nada pro filho.

Coração de pai não gosta de negar nada pro filho.

Coração de pai não gosta de negar nada pro filho.

Coração de pai não gosta de negar nada pro filho.

Não gosta de negar nada pro filho.

Ela:
Pulando no cavalinho: pai. Vem comigo brincar, não era assim?

Ele:
Era! criança do demônio. Maldita, bandida, sem vergonha.

Ela:
E coração de pai não nega nada pro filho.

Ele:
E coração de pai não nega nada pro filho. E coração de pai não nega nada pro filho.
(agarra a mulher)
Não nega... Não nega...

(entram alguns homens, simulam uma “prisão” do homem. E ela grita enquanto ele sai)

Ela:
Você vai apodrecer aqui, seu filho de uma puta. Você vai apodrecer aqui.

26 agosto, 2009

ha

Quando longe manda beijinho e dá sorriso.
Quando perto dá um oi, tchauzinho ou nem isso.
Não me venha com histórias de eu mereço seu protesto.
Tá precisando aprender com o Jhonny
e sua cara de "oi, eu não presto"

19 agosto, 2009

O bom humor não é questão de bom amor.

17 agosto, 2009

Je veux plus

As vezes eu poderia ficar o tempo todo lendo. O tempo todo escrevendo e ouvindo os meus amores musicais. As vezes passar o tempo todo sozinha, as vezes o tempo todo com meus amores amigos. Já supus poder ficar o tempo todo só conversando com aquele cara. Acho que poderia ficar o tempo todo fazendo teatro. Ou o tempo todo bêbada. O tempo todo falando em público, quando eu perder o medo. O tempo todo aprendendo a ser mulher e mãe com a minha mãe. Poderia ficar o tempo todo correndo por aí de bicicleta, o tempo todo na frente do mar.

É que eu tenho um tanto de leitora, um tanto de amante de música, um tanto de tendência a solidão, um tanto de amante dos meus amigos, um tanto de carente, um tanto de sensualidade, um tanto de mulherzinha apaixonada, um tanto de artista, um tanto de porra louca, um tanto de filha e mãe.
E cada tanto é tanto que eu acabo querendo demais e pra sempre. Bem fundo e excessivo. E as coisas precisam ser fortes pra eu viver bem dentro desse corpo de pouca altura. Mas depois passa, eu passo uns tempos no quarto escuro ou no sol, e volto ao normal. Mas se volto é pra pedir um pouco mais.

13 agosto, 2009

Ao prólogo

Eu, filho, neto e irmão de médicos. O homem que foi feito pra ser médico, mas tornou-se ator e, segundo o "papai" um gay, viado, bicha, safado. E perdidamente apaixonado por Roberta, que fazia cover da Nina Simone em uma boate reprovável de Botucatu.
Apaixonei-me quando, depois de nove conhaques com guaraná, ele cantou "Don't let me be misunderstood". Nenhuma mulher seria tão feminina quanto aquele travesti naquele momento. E os nove conhaques que me fizeram apaixonar cresceram para dezessete e me fizeram amá-lo mais do que qualquer homem amou uma mulher. Ele tinha a boca fina, as pernas longas e os olhos enormes saltando da cara. Cílios postiços, peruca longa e um vestido azul muito brega, que o fazia mais sensual que a Monroe, aquela que forçava biquinho e empinava a bunda. Ele era o que toda mulher gostaria de ser. Ele era. Mas tinha esposa e gostava dela. Ela não merece você, com certeza não é metade do que você é. Mas ele ria e acendia o cigarro pós foda. Você é ciumento demais pra um homem, dizia. Depois vestia o vestido azul suado e ia pro camarim vestir-se de marido.

Ele não me amava porque eu o amava demais. Já a esposa lhe cuspia na cara porque pensava que nas noites fora ele ia ao bar com os amigos e se dava com outras mulheres. Ela nunca imaginaria que o cheiro de perfume feminino era dele, não nele.
Dormi três dias em frente a sua casa e descobri que a esposa era uma menina de dezessete anos e realmente não tinha metade da força e do brilho de Roberta. Não era meu ciúme doentio: ela era esdrúxula.

Naquele dia daquele tempo eu ainda achava que era só tesão. Pergunte então àquele conhaque que eu não esqueço o gosto, àquele vestido de lantejoulas azuis e às minhas seringas. Pergunte o que aconteceu e eles desenharão o nome de Roberta com a fumaça impregnante do cigarro dele, que por muitas vezes esteve em minhas roupas e pelo qual eu, por não saber quando o teria outra vez, ficava dias sem tomar banho. Pergunte à Nina como ela transformaria em música o amor que eu tinha por Roberta, e se alguma pessoa a não ser ele poderia cantá-la, mesmo que na imundice dos lugares em que sempre estava com seu vestido brega. Apesar da esposa tê-lo abandonado, apesar de ele não ter deixado de amá-la e continuar não me amando, apesar de hoje estar em uma asilo.

Talvez tenha sido por tudo isso que hoje eu pouco existo. Eu me quebrei em pedaços tão pequenos que nem Roberta conseguiria reconstruir. Reparti-os nos lugares onde realmente me senti vivo. Estão na cama, na mesa da boate e no armário que guardou os vestidos dele. E fiquei sem nada meu por que era desnecessário, para sempre e até agora, depois que se passa por uma paixão assim.

Roberta me deixou depois de dezessete trepadas e três passagens pela polícia.

10 agosto, 2009

Não fume aqui, baby

Não fume. Não em lugares fechados como: boates, banheiros e motéis, mas só se estiver acompanhado. Não fume depois de uma foda. Você está impossibilitado de fazer cara blasée com um cigarro na mão. Chupe um pirulito. Bata uma punheta mas não fume depois se estiver cercado de pessoas. Não intoxique o ar e o cabelo das pessoas, nem os pêlos pubianos de terceiros. Não fume cigarros acesos em público. Não goze na boca. Não fume na balada pra ficar charmoso. Não fume em locais fechados ou parcialmente fechados como bares, caixas de sapatos e as moças virgens de hoje em dia. Não fume o cigarro ao contrário. Não foda os pulmões e os cus alheios.

09 agosto, 2009

Da Clau: Uma historinha de amor

Ele era interessante, tímido e sério. Calmo. Daqueles caras que deixam a gente calma só de falar e rir. Mas tímido nem era tanto, a lábia foi boa e a gente ficou. E ficamos, ficamos. Ele sempre mostrando pro mundo que eu era dele, só dele. E eu adorava. Olhava pra mim sério e me arrancava do meio de qualquer foco de olhares. Gostei quando ele disse que gostava do Cabrel. Cabrel no rádio e fomos pra cama. O sexo era delicioso. Nem tão tímido! Nem tão sério. Depois do sexo ficava quietinho passando a mão na minha cintura. Mãos na cintura! Ah, meu bem, era tudo o que eu precisava agora. Mãos na cintura e o Cabrel cantando... doucement... pas vite.
E ele cantava bonito, voz gostosa. Pensei duas ou três vezes que eu tava feliz daquele jeito, tinha achado um amante, enfim. E quando isso acontece eu sou fiel. Amante. Apresentar pro mundo como namorado só fode qualquer coisa gostosa e feliz. Dá merda. A gente começa a cobrar só porque tem satisfações a dar pras pessoas. Então deve ser amante.
Um dia ele disse que seu futuro era viajar, adorei. Pensei: Aventuras, a gente pegando trilha e dormindo imundo numa barraca, passando frio no mato e calor numa praia deserta, nos alimentando de sal do mar e vódica. Depois ele disse que queria ganhar dinheiro, brochei. Tanta coisa boa pra fazer na vida e tu quer ganhar dinheiro? Brochei forte. Depois disse que queria viajar pra Alemanha, EUA e o caralho. Que guei! Porra, cara.
Uma pena, mas o negócio foi dar o fora dessa historinha de bosta.
Au revoir,
Clau

07 agosto, 2009

Comprar carros

ela - Olá
ele - Olá, a senhora precisa de ajuda?
ela - Gostaria de ver um carro.
ele - Temos vários muito bons aqui.
ela - Observei que vocês tem muitas coisas boas aqui. Como carros, por exemplo.
ele - A senhora quer me acompanhar?
ela - É claro que quero.
ele - Que cor prefere?
ela - Gosto de verde. Prata. E Azul da cor da sua camisa.
ele - Pois não. Temos aqueles pratas. Estes dois verdes e este azul.
ela -Sabe...Gosto de azul...
ele - Sim... Bem. Olha, este. Gosta de quatro portas?
ela -Prefiro quatro paredes.
ele - Quatro paredes?
ela -É. Como aquelas de delimitam um quarto. E gosto de quatro portas. E você?
ele -Ahm? Se eu gosto de quatro...
ela -Portas.
ele - Ah... sim.
ela -Gosto de coisas grandes também, como carros grandes.
ele - Ah, eu também. Veja este...
ela -Então quer ter uma família?
ele - Eu? Então, estou novo pra isso. Mas um dia, ?!
ela -Isso é uma proposta?
ele -Quê?
ela -Direção hidráulica?
ele - Estes aqui. Aquele, aquele e aquele.
ela -Posso ver o azul por dentro?
ele - Claro.
ela -O carro ou a camisa?
ele - Quê?
(tac. ela abre a porta do carro)
ela -Ah. É bonito! Vem comigo?
(ela dá uma piscadinha)
ele - Eu?
ela -É, pra ver se você fica bem. Quero dizer, quero ver se as pessoas ficam bem no carro.
ele - Ah, sim.
ela -Hum. Muito bonito. Seu corpo encaixou no carro, olha só. Mesmo sendo tão alto, costas tão largas e braços tão musculosos. Posso experimentar?
ele -Experimentar?
ela -O carro. Fazer aqueles tais testes drives?
ele - Claro!
ela -Você vem comigo?
ele - Sim, só um minuto.

ela -Olha só, as pessoas olhando pra nós neste carro azul. Acho que ficamos bonitos nele.
ele - Aham.
ela - Ou ficamos bem juntos... Esse caro enfrenta bem estrada?
ele - Sim, muito bem, ele é...
ela - E drive in?
ele - Quê?
ela - Estradas de terra?
ele - Ahm... Sim, ele tem tração nas...
ela - Bom. Então tá.
ela - Então, o que me diz?
ela - Eu digo que eu te amo.
ele - Ahm?
ela - Eu te amo.
ele - ...
ela - Ah. Mas o carro não vou levar não. Sem grana, sabe como é. Preciso antes estabilizar minha vida - (outra piscadinha) - Tchau tchau, delícia.

06 agosto, 2009

pessoas que são simpatississississississímas e interativas, queiram fazer o favor de morrer.
Grata.
- Querido, faz tempo que não fazemos sexo.
- Fale por você, gata.

05 agosto, 2009

Na prateleira

Segue a moça: cabelos amarelos quase brancos.
Seguindo o moço: cabelos lisos pretos até os ombros.
Eles não se gostam, eles nem se olham. Esbarram-se algumas vezes e dizem um "foi mal", da parte dela; e um "desculpaê", da parte dele. Eles são tão iguais que se sentiriam constrangidos, então, por obra dos astros -se é que eles existem- aquário não entra em vênus a não ser quando eles estão perdidos em algum lugar -ele num barzinho preto que toca hard metal, ela na rua Augusta- mas nunca quando estão perto um do outro. Por obra de vênus ou aquário ela se dá com alguns caras babacas e algumas ruivas. Ele com meninas cheias de piercings e tatuagens. Eles são iguais e não sabem. Se se notassem na rua nenhum teria interesse no outro -ele de sobretudo preto, ela de saias indianas- duas pessoas que foram feitas pra ter filhos.
Eles nunca vão se ver, nem ao menos vão notar. Nem ao menos vão se interessar quando um estiver lendo no ônibus - ele, Kafka. Ela, Caio Fernando Abreu. Ele vai passar o resto da vida com o preconceito de que Abreu é moderninho demais sem ter lido, ela não vai conhecer os absurdos Kafkanianos. Eles não vão ter a casa que foi feita na década de 50, sonho de ambos, e que está a venda faz quase cinco anos. Perfeita pra eles morarem com os filhos. A casa que seria cheia de redes, samambaias, insensos e posteres do Iron Maiden. Eles nem conhecerão a casinha que lhes esperou. Eles não vão passar a velhice juntos rindo das brigas que teriam por causa da alergia que ele tinha das margaridas dela e ela dos sustos com o som alto dele. Nem vão sonhar como seria de verdade o amor de suas vidas. Por que não se conheceram. Por que estavam muito rotulados - ele assim, ela daquele jeito.

04 agosto, 2009

ah, sim!

estava viajando de lá pra cá. comecei a viajar que estava viajando ao som de Triumvirat. tudo porque a música que se chamava "flashback" me fazia lembrar do futuro.

02 agosto, 2009

Bom dia, tristeza. O lugar é aquele, sente-se. Ao meu lado, comigo. Sejamos sós hoje.
Seja só hoje meu amigo.

Uma dose? Eu já sabia.

01 agosto, 2009

Qualquer coisa

Eu estava lá, parado e sentado. Ela chegou, tocou meu braço - desculpa daquele dia. Que bom, ela superou o "desculpa qualquer coisa". Sempre tinha uma qualquer coisa pra ela se desculpar. Mas só eu sabia quais eram os quaisqueres. Ela não, a imponente. Só eu conhecia o fundo, só eu. Eu, o impotente. Derretendo as lágrimas na mesa da cozinha enquanto esperava a menina voltar. Ela era um bebê quando olhei pra ela e soube que amor é sofrimento. Ela era só minha quando eu descobri que ela era do mundo inteiro. E eu, por mais pai que fosse, não poderia leva-la ao mundo segurando suas mãos como eu a levei à escola no primeiro dia de aula. A mãozinha dela cresceu e meus cabelos brancos também. E ela lá, toda menina ainda, mas ninguém via. Ninguém via - ele é gente boa, não esquenta- não esquento. Mentira. Olhos dissimulados, minha linda. Não é ciúmes de pai. Não era. Não era pra ser com você, não era pra ser com menina nenhuma porque o que eu sinto nenhum pai poderia. Doía seu - ah, quanta encanação... pára de pegar no meu pé - o mundo é tão grande, e as pessoas tão más. Mas se eu falasse assim você riria. Nunca li histórias pra você dormir, e esse palavreado te chatearia ou divertiria, dependendo do seu humor. Mas a sério você não levaria. Eu falava, falava. E secava... Eu sentado e parado. Achei que fosse você tocando meu braço mas não seria. Você só se desculpava por "qualquer coisa", minha menina. Esperança de pai que você crescesse mais no juízo do que no corpo que atraía aquele. Antes de tudo cheguei a pedir a Deus que você ficasse coxa pra que ele sumisse. Me arrependi depois. E depois de tudo pedi a Deus que ele definhasse - pai, olha só eu voando - você no balanço do parquinho, os cabelinhos cacheados no ar, pra lá e pra cá - pai, olha só se eu não sou desenhista - é sim, era sim, das melhores do mundo - olha lá, eu vou ser aeromoça, voar pra sempre - tão arriscado! ah, seja o que você quiser - então, to de bode hoje, não vou pra aula - e a dor começando, e a angústia chegando e tomando conta da casa e das suas bonecas abandonadas, gritantes, suplicantes pela menina que você foi. Ele chegando, você saindo, você chegando tarde. Ele sumido, você sumindo, você voltando bêbada, você cheirando mal, eu te dando banho enquanto você gritava comigo. Você drogada. E eu definhando. Ele sumido e você sumindo, você sendo tragada pelo mundo porque eu não te levei com as mãos dadas nas minhas. Minha menina. Eu andando a noite toda na chuva, você sumida. Pessoas drogadas, você sumida. Você voltando pra casa três dias depois toda roxa. Indo pro banho depois de pedir desculpa por qualquer coisa. Você de vestido rosa no dia do seu aniversário. Você rindo dos palhaços. Você toda roxa. Você andando até mim de braços abertos quando eu te dei um gato. Você caída no chão e não me reconhecendo. Você chorando por ele. Você bebendo. Você fumando. Você apagando o cigarro no sofá. Você apagando o cigarro na minha cara. Você, a minha menina - Pai, me leva no balanço- seus cabelos pra lá e pra cá. Minha menina. Voando 9 andares até chegar ao chão. Os cabelinhos cacheados no ar, seus piercings pelo ar, seus braços pelo ar. E eu. Eu. Sentado. Parado. Sumindo.
Definhando. Tocando seu braço - pai, olha eu voando.