30 junho, 2010

quem não se é (I)

Não há o que se diga, é fato: Não tem lugar pra mim aqui.
Nem sei se o lugar é pequeno ou eu grande - sem grandezas, sim? - mas não dá pra viver assim, de pé em pé que não vira nem dá pé.
Eu não caibo em mim. E tão insuportável quanto a constatação é tentar algum remédio no passado. Quando era criança vestia as roupas do meu pai e brincava de ser outro e outros. Vendo que ser outro era melhor, coloquei todos dentro de mim e agora, Cá estou eu cuspindo gente pelos olhos enquanto a boca me mata a mim.
Tinha cores fortes que só vi mais uma vez depois de adulto, considerando psicotrópicos viáveis. Tinha cheiro de pimentão cozido. Tinha areia no corpo todo. e pés sujos. ainda tem.
Falar de infância é duro. Deve ser por isso.
quem não se é tem dificuldade de aceitar já ter sido.

26 junho, 2010

I

o nada
não se cala
é barulho ensurdecedor
de puro silêncio
que não pára

22 junho, 2010

Tim 1970

enquanto ainda tiver
o sol de lá fora brilhando as cores daqui do quarto
um livro na cama
uma cerveja na geladeira
e o Tim Maia 1970 tocando no rádio
ainda acho que posso sair da cama
sem tanto pesar

Apesar de eu não gostar da palavra coisa

Acontecem assim as coisas do dia-a-dia.
Um tal não se sabe onde, sempre correria. Um tal momento raiva, outro alegria.
Um momento de vez, uma vez de doer, outra doar - como o poeta dizia.
Alguém que você olha mas esquece por hoje, quem sabe em outro vire poesia...
Acontece o fato que te tira da mania, depois passa
também volta a ser fria.
Assim acontecem as coisas do dia, apesar de eu não gostar da palavra coisas,
tem dias que só ela explica
as coisas todas que abrem caminhos, pelos quais eu não iria.

20 junho, 2010

ouvir Billie Holiday
noites e sensações adentro

nem o frio de lá fora
me gelam esse momento

15 junho, 2010

Novo

O novo
No ovo se teve
Quem nasce primeiro?
Ninguém sabe assim

O novo se teve
porque nasce primeiro
comparado ao fim
ao mesmíssimo tempo
que o novo, esse cu
se esquece de mim

Sintético

Falarei sinteticamente
Tudo desde já
- Três pontos, interrogação.
- Oxalá.

11 junho, 2010

Jogos de Assoprar




Cia da Insônia apresenta: Jogos de Assoprar

O que podemos fazer quando todas as coisas parecem não acontecer conforme esperávamos? E o que esperar quando as coisas todas que podemos fazer parecem não acontecer? Através de uma sucessão de construções imagético-performáticas, Jogos de Assoprar propõe aos nossos sentidos diferentes versões do que seriam o sucesso e o fracasso: Beckett relido (pelas lentes da micropolítica), um desfile de pequenas-grandes tragédias, um final com sabor de delicadeza.

Este trabalho foi fomentado pelo primeiro edital do Fundo Municipal de Cultura de São Carlos.

Quando ? 12 e 13 de junho, ás 20h
Onde? Teatro Municipal de São Carlos
Quanto ? R$ 5,00 inteira, R$ 2,50 meia

Ficha Técnica:
Direção e dramaturgia: Thaíse Nardim
Elenco: Anna Kuhl, Nádia Stevanato e Guilherme Andere
Assistência de direção: Maurício Zattoni
Produção: Anna Kuhl e Yasmim Bidim
Identidade Visual: Laura Teixeira

07 junho, 2010

É

Acordar é a pior hora do dia.

01 junho, 2010

curtas

parar com essa história
de curtas grossas, ora bolas
já me desvira vício
e não se faz ofício
por me causar demoras

dama

Quando se pronuncia a palavra "eu"
todo resto som é quase palavrão
é quase triste, quase drama
findo ato
"eu" insiste: chamai-me dama.