27 novembro, 2009

Um minuto de ar

Um mililitro depois de ter visto tal cena incomum, ou duas horas de areia antes do caso da menina imparível. Aqueles quilômetros todos de gotas d'água se desfizeram em cinco centímetros de poema insensível.

22 novembro, 2009

você é tão vinho branco
e eu
tão cachaça

21 novembro, 2009

Simples

- Você tem seu lugar aqui
não apontou para o coração para não cair no ridículo clichê
ele entenderia
- Você também.
- Como uma de minhas grandes paixões.
- Eu te amei, sabia?
fez que sim com a cabeça, mas não sabia não
Só pelo costume de fazer sinais positivos
quando se surpreende com o que ouve
- É que a gente era complicado
- E se resolvia sem palavra alguma
- Tão iguais
- Tão bonitos
poderia ser de Tarantino esse tipo de conversa
num lugar tão estrategicamente comum
fazia o calor terceiro-mundista dos trópicos,
falavam de sentimentos tão sofisticados
entre um óleo de oliva e uma comida mal comida
- E tão diferentes
- Tão.
- Mas eu gostei
- Também
- Também.
era verdade
e eles sabiam
mesmo que não fosse mais preciso

tudo tinha sido feito para não caber
no tempo que estiveram no momento que passaram

mais simples que isso
tão impossível
quanto desnecessário

16 novembro, 2009

hoje é um daqueles dias que eu largaria qualquer rock and roll para ouvir só Cartola

12 novembro, 2009

Inicío / parte x de uma história sem nome: (sem nome)

Ele tocava violão e acompanhava o Edu Lobo. Ela cantava acompanhando o Chico. O Chico ria, o Edu Lobo ria, eles riam também no moquifo em que moravam.

- Certamente naquele tempo tudo era tão bom. Olha lá, eles cantam, tocam, bebem whisky e fumam charuto o tempo todo. Redes, cadeiras, tudo colorido... aquele conforto anos 70. Que coisa linda. Volta naquela música!

Eles no sofá rasgado coberto com um lençol rasgado. Na mesa copos sujos de café e cachaça. Copos coloridos, maços de cigarro, cartazes irônicos, fotos alegres, cores. Muitas cores. Aquele conforto escondido e ainda sem data definida. Um dia se alguém assistisse um vídeo dos dois ali, com certeza diriam o mesmo que eles do Chico e do Edu.

10 novembro, 2009

des

deixar de pensar = despensar = dispensar ?

06 novembro, 2009

eu ainda serei uma grande-quase-esperta-terceiro-mundista. ah vou!

05 novembro, 2009

Coisa de leveza

coisa de leveza rosa chá seda e pluma semimporta ser coesa quase nada desnuda louca pra se dar nessa prosa qual ela usaria ser ousada?

sobre medidas

Apesar dos dias, preenchidos de horas preenchidos de minutos preenchidos de infinitos que ela mesma, apesar de saber tratar-se bem com ele, não entendia completamente mas; apesar dos infinitos, os dias se arrastavam tortos na porta do guarda roupa, nas roupas, na cama e nas paredes imundas. Imperceptivelmente arrastava-se ela também na infinidade de pessoas e oportunidades e mentiras e verdades e fatos quase até interessantemente confundíveis - o trago da vida - o espaço-tempo aberto à procura de um estanque que não viria sem ele - o infinito espaço transformando-se em algo concreto e contradizendo o paradoxo do homem e da tartaruga (e outras coisas que matemáticos estudam).
Tateava ela, tateava ele - o infinito - talvez porque o infinito não permita qualquer tipo de controle quando ele é o que se tem por medida. Tateava também ele - no infinito. Dançavam juntos a uma distância infinitesimal de palavras, poemas, músicas, cervejas, pessoas, deveres, diversões, vodcas, corpos e camas. Por mais que se movimentassem nos dias, cabia-lhes a espera pela movimentação dos astros que não acreditavam, das viagens psicodélicas que buscavam e pela infinidade de palavras que não encontravam. A espera era translúcida com unhas longas de arrepiar, excitar e ferir; cheia de infinitos meios de juntar e separar dois corpos numa infinidade de pessoas.