24 outubro, 2012

que chico perdoe ou foda


Eu traço sampa a louvor até bem tarde
e tenho muito dono sem mente sã
estudo a porrinharia da maldade
que abate
atestando a mesquinharia vã

Ainda calada sinto que difamam:
"a máquina começa a definhar"
o pânico conforma nossa lama
estranha
o grande inferno popular

no solo dessa viva terra inteira
incorporo o sofrimento da nação
eu trato sampa a horror na algibeira
porque não posso mudar tua opinião

não sei se desgostosos se repartem
dizendo-se dessa merda grande fã
eu traço sampa e louvor em grande parte
e guardo medo do grande irmão

15 outubro, 2012

uma homenagem

Te conheci quando você ainda sustentava uma aparência de pessoa interessante. Rabiscava em seu caderno rosa e batia o lápis no queixo com ar professoral enquanto eu, sem tomar banho e no escuro, achava que nunca chegaria lá, que seria impossível competir minha imagem inteira com sua sombra porque até a sua sombra sem lápis e sem caderno rosa me assustavam. Aos poucos limpei meu corpo e você, depois daquele toco do Paulo, se sujou toda, perdeu o lápis e usou as folhas rosas pra tentar infinitos frustrados aviõezinhos. Segurava o avião torto entre os dedos e se jogava. Jogava-se mas não voava. Batia corpo no chão em barulho oco, tomatístico, e eu fui tomando forma, conteúdo e corpo. Quando menos esperava eu já te ajudava a levantar. Orgulhosa tomei forma de gente porque descobri o valor de ajudar que a nossa merda de raça sempre precisa pra ser gente. Te dei goles, comes e conselhos. Você não via nem ouvia, mas eu, caridosa, crescia. Pendurei minha foto no seu mural, tirei fotos com você pra colocar em redes sociais, disse como estávamos felizes no shopping, você não curtiu. Parou de falar e comer, queria o Paulo e só o Paulo te daria uma razão. Dormia o dia inteiro e achei por bem, caridosa que sou, limpar aquele quarto imundo que ninguém entrava por causa das baratas. Foi cruel. Mas o dever cumprido rendeu uma noite de vinho argentino que você não tomou. Foi pro quarto e lá está, junto ao seu lápis e a capa de seu caderno rosa que enquadrei e preguei na parede frente a sua cama. Até hoje me pega a lembrança da pessoa maravilhosa que você foi, que tanto me ajudou a ser e pela qual hoje tenho sido dia a dia mais. Todos os dias publico, como agora, uma homenagem plácida a sua pessoa, destruída pelo tirano Paulo que não soube entender, amar e ajudar alguém com tamanha alma vibrante como a sua. Sei que ainda lê, então quero que saiba que

06 outubro, 2012

é preciso, antes, precisar

Desesperadas paredes da cidade libertam. Os muros desse lugar meio sujo limpo alfinetam o desejo incansável do homem por beleza mas também se amolecem com nossas cores e formas. Tijolos e concretos pintados cedem lugar ao respiro da arte. Ruas que se combinam em cinzas a ton sur ton, placas vermelhas e faixas amarelas - para que paremos, tenhamos cuidado e estacionemos - abrem-se ao rosa laranja lima. Avisados estamos por todos os lados. Avistados não. Por isso cores e formas rosa laranja lima gritam que seja proibido estacionar e não ver que as faixas amarelas ficam dia a dia mais estreitas. Somos a multidão ocre apressada, tropeçante em tantas placas faixas out dores, separados por arestas e vértices porque curva gasta tempo: o mais perto entre dois pontos ainda é a reta, dizem. Por isso quanto mais arestas e muros e cinzas mais pintamos, mais curvamos linhas em muros telas alternativas, mais pulam poesias insinuadas. Que bem situadas estão, porque é preciso precisar de poesia.