26 junho, 2009

- Sabe, aquele dia que eu cheguei
- Sei. Com cara de gente que esqueceu alguma coisa
- E você tava saindo da casa pra trabalhar. Eu tinha esquecido...
- Era a blusa, né?
- Primeiro esqueci o que falar. Esqueci palavras. Era sua cara. Sua espera.
- Depois falou que era a blusa e foi embora.
- Foi.
- Então volta.
- Quem sabe né?
- Enquanto isso...
- Enquanto isso você continua alugando todo mundo. Trepando com todo mundo. Mas eu volto.
- Acabaram as fichas.
- Um beijo
- Beijo

do exame de

Quando nasce é imortal. É lindo. Maravilhoso. E a delícia que ele despende é perder a própria inocência. E por perde-la ele se torna dilatadamente mortal.

lá fora

Hoje foi tentador declarar um feriado pessoal.

25 junho, 2009

é só o reflexo do que está acontecendo.

minha cabeça pesa o tanto do ar. é leve. é assim. no fundo no fundo tem uma coisa de poema. aquele depois do estresse. o maravilhoso. o divino. a sensação que fica sem levar ninguém. é o que encanta.
e canta. e canta.
meu corpo tem o brilho da luz. poeta. poema. poetinha. sana com o que vem de terra. desintegra. entrega. devora. o que faz com o fósforo. o isqueiro. o cinzeiro. o que é por ser cômodo. é só reflexo. é o que transfere.
e fere. e fere.

21 junho, 2009

desescognitivamente falando

- Triumvirat me deixa mais inteligente. Beethoven também. Talvez Saramago...
-Quem sabe o teatro?
-Sim.
-Vem de você ou deles?
-Sei lá. Cérebro trabalhando. Fervendo. Os dois. Dizem que a cognição
-Processo de... como chama mesmo? quando atrapalha, desestabiliza.
-É.. como chama?
-Errei uma questão na prova por causa disso.
-Piaget.. ou Vygotsky? Quem era mesmo?
-Só lembro direito do Skynner. Aquele filho da puta me condicionou!
-Então. As ... essas coisas todas, entende? Atrapalham a cognição. Aí a gente fica inteligente e
-Mas nem faz muito sentido ?
-Mas funciona com criança
-Mas criança é bicho inteligente. Aprende assim mesmo. A gente não. Se se atrapalha, fode
-Nossa. Que chato. Será?
-Sério.
-Mas todos esses estudos. Comé que eles ensinam do EJA? Devem ser teorias
-Ahm... verdade... ensino de adultos. Será?
-Mas... Como é adulto, deve acontecer só o processo de acomodação de informações.
-Só acomodação?
-É, por isso que a gente é vagabundo!
-...
-Foi mal.
-Você sabe que eu me importo com essas coisas. Ensino, aprendizagem. Ensinagem.
-Enfadonho. Sabe que eu andei pensando sobre isso.. que
-Desencana
-...
-Vai lá.
-Eu andei pensando... imagina se tudo que a gente aprendesse viesse das nossas experiências? Tipo, uma sociedade hippie!
-Isso já
-Perae. Uma sociedade hippie onde todo mundo ia aprender por causa da própria experiência. A gente não ia ser acomodado a aprender a ciência já feita- ou inventada né?- ia fazendo a ciência!
-Muito bonito mas é que
-Muito legal! Cara, vou difundir isso. Ia ser perfeito porque
-Isso já existe, e é uma teoria TAMBÉM! Mas sem essa de sociedade hippie. Comer mandioca e fazer sexo demais não dá inteligência suficiente pra "fazer ciência"
-Poxa... Será?
-Sério
-Tá bom. Mas...Que foda.
-Foda.

20 junho, 2009

ele disse: "ê Nádia. Pára de escrever putaria!"

Respeitem meus cabelos vermelhos

Começa com um começo não indeciso, eu assim: olhando o espelho olhar meus olhos logo acima da boca entreaberta, pronta pra te falar: eu vou embora. eu não presto. eu vim pra te dar seu sentido. eu vim pra você se odiar.
Uma piscada de olhos na cara de quem desgraçou algo bom. Os lábios se encostam num sorriso que pareceria tímido, não fosse safado.
E antes de sair, um beijo doce precede um tapa na cara. Viro o rosto e te faço chover meus cabelos. Seu rabo foi quente por um tempo, gata... Mas sou mulher que gosta do frio.
Adeus baby, foi bom porque poderia ser melhor. Agora é a última vez que faço isso, ao menos até que o dia acabe.

(da Clau?)

19 junho, 2009

Ela

Quando ela dança, alerta, alarde, alcança
Ela chega a todo pote de ouro, do lado outro daquele lugar
Ela gira, gira sendo outra, do outro lado e ainda me lança
Denso e morno todo, morto por estar tanto, e só

Porque naquela dança embolada, ela espalha cor, luz e areia
Entra nos meus olhos, camufla, congela, surta e sapateia
Na minha cabeça, no corpo pele e na boca
o gosto da fruta, o laço de lança dela, a louca

(...)

16 junho, 2009

mono diálogo

- !!
- ...
- ... !!!!!!!!!
- ...
- ?!?!
- ...
- !!!!
- ...
- &*!!!
- ...
- !
- ...
- ...

( Um não tinha que dizer. Outro não tinha o que dizer)

14 junho, 2009

antes de dormir

só faço possível sentir o melhor gosto da solidão quando lembro que não sou sozinha

13 junho, 2009

antes que termine

(ao som de Les Enfants de Yann Tiersen - On Tour DVD)

antes que termine
escuta
tem pedra na sua solidão
onde não quero tropeçar

antes que eu saia
me fala
tem pedestal no meu chão
onde você não quis pisar

a gente vai discutir,
brigar
jogar garrafas no chão
e ninguém vai tropeçar,
porque cortamos os pés nos cacos.

e no fim
os dois corpos
os dois pés
os pedestais
as pedras
o sangue
e os outros dois pés
e os copos
e uma garrafa
vão pra cama
chamar a embriaguez
com um sussurro

e no resto da noite
pedidos
risadas
choros
gritos
sussurros
e a calma

e mais...

tem yann tiersen no rádio
embalando dois corpos
dois copos
uma garrafa
e uma vontade de ficar

mas

que só vai durar
até a hora de colocar
em seus devidos lugares
os pedestais
as pedras

apesar
do devido lugar
dos corpos
ser a cama

12 junho, 2009

feliz dia do mais famoso, mascarado e rentável contrato entre pessoas!

11 junho, 2009

Os mil martírios de Sebastião

(texto em fase de mudanças)

Feitos de sangue e frio, o frio da rua : vai de fora pra dentro. Feito de inocência, suor e frieza. A frieza que vai do tal do coração pra fora.

Feito da outra, feito de vida com um pouco de sal. Feito de pus, dor e anestesia. Feito de massa que cresceu com o tempo entre o osso e a pele. Feito de ferro, aço e gasolina. E fogo. De pobreza e de riqueza volúvel. Feito Sebastião, que não era um assassino. Era um salvador de quem não sabia viver.

Feito assim, andou três dias pra conversar com o tal que daria à ele algumas ferramentas de trabalho. O velho tinha cara seca e voz macia. Era confuso. Talvez por isso ninguém gostasse nem desgostasse dele. Ele só estava ali. Ele só existia. Ninguém desgostava dele porque não sabia a verdade do que ele era. Mas se soubessem, os racionais nem assim o desgostariam. Não era por maldade, era porque se importava com aquele lugar.

E o Sebastião entrou na salinha escura com a cabeça erguida, por medo. É interessante ver que gente de personalidade também sente medo. E por isso ergue mais a cabeça. Grita quando não tem o que falar. Então, olhou na cara do velho de voz macia e quis se mostrar forte e pronto pro trabalho. Mas o velho disse que não era de sola que se chegaria ao lugar que ele queria : era preciso ter voz macia e uma imagem de quem só existe e não é grande coisa.
O velho até que sabia das coisas.

Procurou na mesma cidade um outro. Estranhou ser um moleque. Vinte e cinco? Com um cinto de couro e um olhar de quem sabe das coisas. Exatamente por isso Sebastião soube que o moleque não sabia nada.

Andou mais dois dias para procurar um outro que poderia ajudar. Ao chegar viu uma mulher amamentando uma criança suja. Ela tinha gordura no avental e um pouco de farinha no cabelo. Pela figurativa expressão de Sebastião, a mulher descobriu o que ele queria sem fazer perguntas. Ela disse para ele não olhar daquele modo porque caridade e pena é pura promiscuidade.
Sebastião sentou e tomou o café extremamente doce da mulher. Lembrava a avó dele. Não a mulher, mas o café dela. Quando o café acabou ele percebeu o cheiro de mofo misturado com mijo de criança e gordura, oléo... não sabe. Aquele cheiro era tanto que pesava no ar. Ele sentia os ombros caindo, a respiração difícil e os pés colando no chão. Será que não era visível que ele passava mal? Nenhuma fresta, nenhum espaço de ar. Nenhum lugar pra correr antes de ter a conversa que lhe interessava. Só os olhos corriam na cara parada de Sebastião, procurando um espaço menos fedido naquela gaiola sem frestas.

A mulher não perguntou nada. Deu à ele as ferramentas e falou : a única coisa que te digo dessa merda toda é que cê tem que saber pra onde vai. E não vai adiantar mudar o caminho - ela falava com os olhos tão cravados que o fazia sentir vergonha - Pensando isso cê não vai maricar no meio do caminho. Se pensar muito, perde a ida. Se esquecer, perde a volta. Agora vá.

Tudo pesava tanto que ao sair da casa sentiu que voava. O ar era outra vez leve e sem cheiro. Era, enfim, ar. Sentiu que cairia de joelhos na terra mas se esforçou para andar até que a mulher não pudesse vê-lo pela janela. Que janela? pensou. Não tinha. Mesmo assim não queria correr o risco. E andou, andou, andou. Caiu por terra, em cima da mala das ferramentas. A dor os joelhos que bateram no chão não era nem um terço da dor que sentia dentro da casa. Ficou ali abraçado com a mala, como a mulher abraçava a criança suja do colo. Quando sentiu que sua carne voltou a aceitar o ar puro, levantou e foi embora. Se pensasse muito perderia a ida.
E Sebastião foi.

é razoável entender

08 junho, 2009

Ao ego do escritor

Frases de Efeito
servem pra serem de feitos
mas acabam sendo um defeito
de feito do escritor
o ansioso. o orgulhoso.
o defeituoso.

07 junho, 2009

só licitando


num certo descompasso
o riso, o fato
o laço que me perde o telhado
summertime não é pra todo mundo.

E ele encontrou um bilhete do bolso do casaco

eu espero, te espero. Mesmo que seja para ficar dias na cama pra não olhar a hora que não passa. Seja pra voltar com seu ar imponente e cuspir minha comida. Seja pra ouvir outra vez que você não espera nada dessa transa toda. Olha pra tras, que é sempre lá que me sento quando não quero que me vejas. Vira o rosto na rua quando passar por aqui, você sabe que eu sempre estarei na janela esperando. Você sabe que eu sempre volto pra você quando você volta pra si mesmo. Você sabe que eu perco, me perco, perco dias por esperar por horas. Você só disse algumas palavras.
A tua.

06 junho, 2009

entrelinhas

Vi algo assim:

Estava calmo, estavam calmos, estavam leves e levemente bêbados. A fumaça que lhes saía da boca era a única nuvem no céu azul escuro. Deitados. Confortáveis com a presença e com o calor que ia de um para outro, e do outro novamente para o primeiro, assim como o cigarro cerrado mas não acirrado apesar de ser o único que lhes cabia. Mas sensação é algo que nunca é demais, nem a boa nem a ruim. E no meio de tanta, ainda o leve toque dos dedos entre si e dos dedos com o cigarro provavam aos dois o desejo que estava por dentro de cada um, e que era de um para o outro e do outro para o primeiro. E como eles não eram dados a sensações reprimidas, sorriram e comentaram o fato, como fazem os bons amigos. E como também não eram dados a romantismos, o beijo aconteceu somente no cigarro. E por consequência beijavam-se eles também, mas sem tocar os lábios.

(... continue as entrelinhas por mim)

03 junho, 2009

deles para ela

E ela entrou gritando suas palavras de culpa àqueles que renunciaram a boa e costumeira. A blusa amarela que vestia contrastava com a falta de sol de fora e de alegria dela, ou talvez refletisse o excesso da alegria deles. Quase já não se fazia o sentimento de curiosidade sobre aquilo a não ser o dela em relação a eles, como sempre tinha sido quando ela passava suas noites mal dormidas, mal ridas e mal amadas no sofá que colocava na cozinha só pra não ter contato com nada que não soasse hermeticamente triste. Depois ela reclamaria que o próximo dia estava feio, a comida estava ruim e seu patrão era um descrente. E todos eram descrentes e ela viria para salvar os aflitos. Nessa missão ela humilhava um a um com um sorriso cortante. Depois de um tempo, dizia, vou ser feliz. Muito feliz. E implicitamente dizia também, vocês vão ser o lixo do que vai sobrar. Nessa intenção nos momentos de distração lia livros de segunda mão na cozinha obscura, porque ela fechava a persiana e acendia a luz ao meio dia. Até hoje não sei se lia de verdade já que ninguém inclina o livro daquela forma necessariamente para que os outros vejam o título. Será que ela pensava que o livro era bom? Eu achava, e acho, um lixo. Talvez aquele mesmo lixo que seríamos os outros daqui um tempo. Mas nunca reclamei daquela merda na mesa da sala, na rede e em cima da minha cama. Aquilo aparecia em todo lugar e eu não reclamava, ao contrário dela quando eu errava a cinza no cinzeiro. Aí comecei a errar com propósito. E todos, cada um, fazia algo. Outros só se davam o trabalho de rir alto; acho que era o melhor remédio, mas eu era, e sou pouco boa a ponto de me contentar com uma vingança subentendida. Então eu ouvia meu alto e bom som e dançava. Enquanto ela fingia que ria de mim eu dizia à ela que eu era a nata do roque em rou e dançava e ria ria ria. Ela se dizia cansada e saia pra cozinha cozinhar feijão com pouco sal, porque sal faz mal pra pressão. Eu queria dizer que pé no saco fazia mal pra pressão, mas mas me restringia a continuar cantando Elvis.
Aí um dia ela aparecia chorando e dizendo que amava todo mundo, bêbada. Falava da incompetência sexual dos seus homens e entre um choro e outro vomitava. Todos se quedavam um pouco comíseros à ela e com ponta de decepção consigo mesmo. No dia da ressaca ventava um clima estranho mas ainda havia uma certa paz estabelecida e eles repensavam seus meios. Mas depois passava, tudo passava e a porra do livro estava lá no sofá, na rede, na cozinha e a persiana estava fechada outra vez. Aí todo mundo via que era engano e voltava tudo a sua programação normal.


(...)

da Clau 4

Sabe que eu não tenho mais puto pra aguentar tanta asneira. Essa gente me fode a vida. Não posso mais beber, fumar e meter que alguém me aparece dizendo que eu errada, que não devo, e alguns impõem que eu não posso. Não posso! O cara da mesa do lado me olha com cara de merda e quando eu pego o espelho me convenço do motivo. Essa maquiagem pesada, passada e repassada de uns 5 dias, esse cabelo mal lavado, mal passado e mal colocado na cabeça. A cabeça mal colocada no pescoço. O pescoço marcado de roxo. E o resto... E todo o resto desenha o que eu sou. É nessa cor que eu me conheço, é nela que eu desperto o que está perto de eu ser. Aí eu não consigo segurar a risada e tudo cria um ar mais identificado comigo mesma. A risada que me afoga mágoas, as mágoas que afogam a brisa boa do conhaque. O conhaque que me afaga e me afoga na língua deles como um exemplo de como não se deve ser.
Hoje eu queria só ouvir um blues e beber até vir a sensação depressiva cult solitária. Hoje eu queria rasgar minhas orelhas e meus lábios na frente deles pra ver as caras. Eu queria que eles passassem vergonha por mim, porque por mim a vergonha que se foda espelho a dentro. Ia começar leve, lento e ia ficando seco e frio. Até desbotar. Até perder a respiração e virar de lado.

Clau
"Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria um outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura - loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura."
Ernest Becker, A negação da morte ( em Caio F. Abreu, Morangos Mofados)

01 junho, 2009

Desejo sem justa causa

seria desejar você sem justa calça








(e por que não?)