30 maio, 2012

Para chegar aos 97

Entregue-se, ele disse

Se mais entregue que eu agora não outra eu nunca fui

 nunca fui tão entregue porque agora vi que queda nunca é demais

Colocar fé no que é bom nunca é demais, nem erro, nem acerto, são páginas tais

Como sais no espírito, de limpeza de puro de novo descanso

sentimentais

não importa o quanto seja duro o depois

pois depois da dor vem um copo pelo meio e sempre outro amor

Porque já que o copo está sempre meio cheio

eu quero sempre o corpo cheio inteiro

Cheio inteiro

Corpo cheio inteiro de coisa dentro

Tão inteiro por dentro que por fora é nu

Muito nu

Mas limpo e lindo de tanto cheiro

...já que nudez me cheira tanto...

Cheiro certeiro vivido que ainda tem muita vida pra viver

E curiosidade suficiente pra querer ver

Ver viver de cara a cara frente a frente com sutilezas a somar

Com energia suficiente em fichas pra apostar,

Com um novo dia de novo jornal e um novo café no meio do copo

Enquanto o meio do corpo dança danado pelo quarto

Ele sempre vai dançar

E as páginas tais serão sempre bem dançadas

Senão, como eu posso sustentar o discurso de viver até os 97?

14 maio, 2012

Começa assim

Geralmente começa assim.  Vários pontos formam retas e planos de vista em comum, quando eles menos esperam já estão sorrindo e se arrepiando pela vontade de agarrar aquele corpo e beijar aquela boca que não para de se mexer oferecidamente. Do querer sentir aquelas mãos expressivas em suas costas e coxas e aquele corpo ágil em sua cama, vai-se para as pernas que se tocam embaixo da mesa; depois, eles se beijam e se abraçam e sentem a textura, a lisura e a pura livre sensação de todo aquele ser imagético ser agora tocado e mordido e degustado. Depois eles conversam um pouco mais, descobrem pontos retas planos e esferas em comum. Acham que podem aprender um pouco mais um do e com o outro. Trocam cartas, falas, filmes, energias e intenções - não das mais puras, mas carregado de solturas, pra assim trocar um pouco mais do que fluídos, já que passaram da idade. E flertam. Flertam. Até lembram calorosamente um do outro em uma ou outra masturbação. Até que um dia se encontram com olhos parametrizadores. Uma ou outra dose depois trepam, sentem-se externamente. falam muito mais que as imagens e filmes e palavras trocadas. Daí o tom da conversa muda do flerte para o que eu soul. Aí ele fala bastante pra encanto dela, ela fala pouco, como sempre e agora mais do que nunca, pra estranheza dele. Ele fala de tudo com naturalidade e ela acha linda aquela liberdade. Eles tomam, eles ouvem,e, mais uma vez, depois dormem e acordam para fumar. Ela, que é dada a observações, acha os gestos dele tão bonitos que construiria um personagem. Ele é tango e cítrico e samba, ele nunca passaria despercebido. Já ela brilha ultra violeta, não violenta, não visível. Até que num céu desabando sobre os dois, ela se vê de fora olhando pros dois na cama e acha tão bonito que não sabe se está apaixonada só por ele ou por ele e pelos dois juntos. E ela se reapaixona por si, por ele, pela dança dos astros traçando ruas e cruzamentos de destinos de arrepiar quarteirões. Geralmente começa assim. Mas é muito raro.