27 fevereiro, 2010

Des peço

eu me despeço do seu tropeço
e você, irônico,
diz peça do meu co-meço

26 fevereiro, 2010

mulher infiel (ensaio)

oh! mulher infiel. Que faria eu senão te enxovalhar a cara de todos os seus enxovais e guardanapos que nem ao menos guardam napos seus. Porque você é minha mulher dos seios estrategicamente côncavos, das coxas de punhos que foram moldadas aos poucos em tempos de amores nem assim tão febris, mas grandes causadores dos seus vícios que te secaram até os ossos. Daria um beijo na testa e um anel amarelo. Diria você depois que sou merda e pouco te mereço. Que faço eu além de te tratar como as que vieram com a virilha de quem nasceu pra ser possuída? Se você, como todas elas, sabe para quem veio mas não tão bem para que. Para tanto é que te consumo salientemente e te devolvo depois ao lugar, único, que se pode dizer seu.

17 fevereiro, 2010

Do teu esquecimento

Existem palavras com ambições muito diferentes das outras muitas. Não se querem rebaixadas à condição de escrita, portanto não descem da ponta da língua até os dedos para se entregarem a qualquer papel de qualidade duvidosa. Tampouco se querem diminuídas à condição de fala, por isso não saltam da língua para o ar com o risco de se esvaírem no primeiro vento que lhes alcance. Estas, as palavras de ambições diferentes, são aquelas que surgem após coçar a cabeça e os cabelos repetidamente, e das quais nos esquecemos quando tomamos a atitude. A tão esperada e necessária atitude. Abre-se o celular, digita-se o número ao qual mandar a mensagem e o vazio preenche o instante tanto quanto a caixa de texto. Tais palavras tem por única ambição serem vividas. Só assim, sem nem ao menos definir quais são elas, que estas palavras se tornam.

10 fevereiro, 2010

Quem sabe?

Quem sabe? -Amanhã eu aprendo
terminarei enfim com essa mania
acabo com essa excêntrica boemia
tomando, como diz a mãe, um tento

Quem sabe um dia ter agenda
esquecer os imãs e a geladeira
aquecer de madruga a mamadeira
saber o que querem que eu aprenda

quem sabe um dia ter namorado
e deixar a profissão namoradeira
porque dizem que dou pra sapateira
e esse papo já tá me soando chato

e quem sabe um dia, seria feliz
pensar menos confuso e denso
pra poder falar tudo que penso
e gritar aos pulhas o que quis

Ah, veja se não seria bonito
se antes de virar bacana
antes de entrar em cana
eu lesse menos o livro maldito

04 fevereiro, 2010

Papéis livres

Olhando os dois assim nem parece muita coisa. Mas os braços cruzados de um combinam com as pernas estendidas do outro. Os olhos fechados de um combinam com a boca atenta do outro. E até as roupas, com as quais não estão. Olhando-os assim nem parecem. Olhe para a esquerda. A mesinha de cabeceira guarda, entre cadernos e livros, versos livres com palavras descompostas pra serem só deles. Lamentos e intenções regadas de noites saudosas.
Entre nós existe aquela vida
um mínimo senso atento
do quase medo da partida
E foi sem despedida, sem espera e sem guardados. Estes que geraram grandes achados: um pedacinho de papel livre que escapa do livro. Um quase cheiro conhecido que passa despercebido na rua e para o qual outro se volta e não encontra mais. A ficar na dúvida se foi imaginação.
Espero com você o dia
em que tudo que façamos
se vingue da monotonia
Não que vivam quietos a vida longe. Não que se esperem para o jantar. Nem que se esqueçam de em algumas noites, dois vinhos, lembrar.
Quando ventou a noite que você saía
nem meus poros, nem meu corpo e eu
entregamos o total em demasia.
Até que a música enlace a voz macia outra vez. A testa espalhada de suor, os braços cruzado e as pernas estendidas. A cabeça se curvará cansada de noites mal dormidas. Encontrará o velho ombro direito endurecido das escritas.
Porque nós
éramos cordas
cheias de nós

02 fevereiro, 2010

Na grama

Dois deitados na grama. Lua cheia.

- Sabe qual é a sensação?

Coçando-se:
- Hm Hm...

sorrindo:
- Uma coisa assim...

tirando uma formiga que subia pelos pés:
- Boa?

- Assim... Uma sensação... Sublime! Sabe?

Ele pensa por 53 segundos.

- Não sei não.

- Mas você pensou.

sem respostas, continua.
- Se você pensou, já é.

matando um pernilongo com uma palma, cara de nojo do sangue que fica nas mãos:
-Não foi sublime não. Foi... - diz entortando a boca, com certo desprezo - Foi.. só dúvida.

- Então!

Coçando-se:
- Ah, tá.

- Poxa, você não entende. Não entende a profundidade.

Demora mais 15 segundos. Mata mais um pernilongo.
- É. Não entendo não.

- Tenta! É uma cois...

- Vamo embora?

- Puta merda.


não há luar romântico que resista à grama.