15 outubro, 2008

E era total

Havia algo no ar. Existiam os pensamentos mas faltavam as palavras. Havia e há.
Tinha emoção, sentimento e gota. Tinham os risos e as vontades, os achismos e as certezas. Algumas suposições bestas nos lugares errados. Alguns gestos nas horas certas.
Se a solução fosse esticar o tempo, remendar o cenário, arrumar a cama ou esquentar o chá; ainda assim, era possível que não desse certo.O tempo já tinha sido esticado algumas vezes mas um copo já tinha se quebrado no chão.
Se a solução fosse ainda catar os cacos, e colar tudo outra vez, ainda sim o chão cenário teria outro gosto.
Ainda elas, as suposições, levariam àquela mania de evitar alardes. Àquela fuga entorpecida.
Os risos entorpecidos. O entorpecimento pelos risos. Os risos das horas certas.

Eu não trouxe só corpo, como pode parecer. Eu trouxe o nó da gravata... e a falha da voz (ainda que bem disfarçada). Mas quando os trazia, deixava em casa os achismos e as suposições. E era nisso que se entretia o cenário. Ou fosse por isso que se etretiam no cenário.

Não dava para saber quando era hora de entardecer, e acho que nunca vou saber. Afinal, dentro daquele cenário, para entardecer e amanhecer é só diminuir ou aumentar a luz.
As vezes também não dava pra saber quando é que havia, ou não, algo no ar. E acho que nunca vou ter a sensação exata de que se está ou não, de hoje em diante.
Daqui pra frente eu vou ter a sensação, ou o achismo, de que pode sempre ser hora de entardecer, amanhecer ou de respirar o algo que porventura esteja no ar.
Gota molhada, parada e cristalizada nesse tempo. Cenário gravado na memória. Luz apagando nos olhos. Cheiro gravado no toque da pele. E esta sensação de que algo está fora do lugar... E que o nó da gravata sempre vai estar aqui quando eu lembrar.

13 outubro, 2008

13

Era, sim, uma vontade que ia de um pra outro e se retribuía em olhares e sensações. Haviam gestos mas, tímidos, não exprimiam nem metade do que realmente queriam. Era uma troca de olhares e carinhos, de carinhos e amizades..Mas eram só carinhos de amizade.
Com algum tempo depois, passados com palpitações pelo "quase", um leve toque diferente dos outros, e muito mais rápido que aqueles, disse tudo o que sempre se quis dizer : "eu quero".
Foi necessário segurar a ansiedade, os pensamentos e um sonho bom no qual até sentia-se o cheio. Sustentação.
Foi necessário segurar a ansiedade pela presença que, além do cheiro, trazia também o olhar e o carinho...e sentia-se a vontade. Sustentação.
Foi necessário olhar a volta para sentir o que queria.
Foi necessário ir embora rápido.
E nesse doce de sustentação, fica o sorriso..E a vontade de ficar.

Dois passos

Dois passos. Mais um. Dor. Cansaço. Respira...Nada. De novo. Ar frio demais.
Dois passos. Só eu. Cansaço. Vontade. Sobra. Esquece...Nada. De novo. Pensa. Resolve.

Olho pra baixo, meus pés. Olho pra cima pro ar frio massagear meu pescoço. Olho pra frente e torno a olhar pra baixo pra não ver o quanto falta.

Fecho os olhos. Dor. Respira...Passa. De novo. Energia.
Olho pro céu. Ta bonito porque ta vermelho porque ta frio. Aperto as mãos molhadas e dormentes. Frias. Respira...Esquece. Pensa em alguma coisa.

Fecho os olhos. Ar frio. Respiro fundo pela boca. Solta com gemido.
Olho pra frente. Estou chegando. Nessa hora é bom porque está a sós com a própria vontade. A sós com a própria sobra de energia e com o cansaço pela falta.

Dois passos. Menos uma. Mais dois passos. Bem estar. Respira. Sorri. Lembrei de uma música.
Tento cantar...Não! Respira. Ar frio. Boca quente. Sem esquecer: mais dois passos. Respira.

Olho pra cima. Respira. Sinto que é um pouco do céu vermelho porque to quente, mas é porque ta frio.
Brinco de respirar um pouco do céu vermelho pela boca pra ver se dá pra sentir o gosto.
Respira... Esquece!

Dois passos. Olho pra frente. Ta chegando. Aperto as mãos dormentes, quentes e molhadas.
Passo a mão pelo rosto frio. Tá frio porque tô quente.

Dois passos. Mais um. Vontade. Não pensa porque tem o cansaço. Respira. Ar quente aperta meu corpo dormente e molhado.
Dois passos. Resolve.