Construção da personagem do "Texto pra Dois" de Will Aziz
O nosso texto começou assim : pra dois. Eram nosso os dias, a casa e a cama. Éramos dois nas ruas vendo vitrines e sendo vistos por olhos de inveja. Nossas risadas, eram muitas, agrediam os menos sensíveis ouvidos e nossa expressão, os mais cegos olhos.
Agora você se perde em seus problemas e me obriga a me perder nessa casa vazia e nessa cama fria. Você chega do inferno de lá de fora e não tem ao menos coragem de explodir na minha cara o que te irrita. Você não tem por mim paixão ou raiva, e é isso que me insulta. É isso que me afunda ainda mais no passado enterrado nesse baú.
E mais do que ninguém, você sabe que esperar quieta não é do meu feitio. Você me viu e me amou forte e densa, firme e corajosa.
Agora não sei... O seu silêncio está silenciando minhas vontades. Ao menos é isso que me parece ser sua intenção. E eu não vou deixar. Não vou permitir que você silencie a mim também, como fez com essa casa, essa cama.. Não vou perder minhas expressões nas suas, como você faz dia-a-dia eu me perder nesse espelho, que nada diz além de que envelheço com você. Ao mesmo tempo que você, pois duvido que ainda sejamos juntos.
Não sei o quanto é do meu cansaço e quanto é culpa sua. Até porque houve um dia que você me trouxe flores, e eu resisti.
A culpa também é minha, não pelo silêncio, mas pela minha dureza se espalhando nessa cama e na imagem desse espelho.
Eu não quero esperar sozinha o dia em que você acabar-se, ao meu lado sem ser meu. Eu não vou esperar o meu fim. Se é pra ser um fim, que seja forte como eu. Que grite, como grita meu corpo a cada dia.
19 novembro, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário