16 julho, 2008

A partida

Partiu de lá, sem partir qualquer coração, sem quebrar qualquer expectativa. A cabeça meio curvada para o lado pelo peso da única sacola que levava. Sacola velha que fedia mais que ele.
Cansara daquela terra que só lhe trazia poeira. Da casa que só lhe dava sombra. Da esteira que só lhe dava um descanso surdo e entorpecido pelo calor.
Seu abatimento era indisfarçável. Não que tentasse...Já tinha perdido a mania dessas convenções de manter aparências. Entre ele e o mundo todo havia um vale, um buraco que o sol não conseguia mostrar até onde chegaria. Partiu para tentar construir sua ponte até o outro lado. O mundo estava lá e ali ele era tão volátil que não era difícil querer ir embora.
Quebrou a imagem do seu santo e matou sua fé. Essas coisas seguram a gente de forma subliminar, e nessas horas não se deve correr esses riscos.
Pensou em deixar uma carta despedida, mas lhe faltaria destinatário merecedor de tamanha eloqüência. Pensou em pagar a conta, mas lhe faltou algum passatempo que lhe desse gasto.
A saudade já lhe tinha sido trepadeira da cerca coração. Agora a vontade fazia uma fenda cor de fogo no medo, e no costume.
Com um anti brilho nos olhos desmarejados. O antes brilho do seu lugar agora transbordava pena e um gosto pálido. Estava preso a uma tenda cheia de janelas. E quase sabia por qual sair.
Foi, porque ele ainda não tinha sido.

Um comentário:

Fabio disse...

Fazia tempo que eu não sentia cheiro de Elis Regina. É tão bom ver que algumas coisas não se perdem, nunca.
Beijos